Sábado passado, eu e meu marido fomos assistir a uma peça de teatro. Quando vi quem estava na nossa frente na fila para entrar, chamei a atenção dele, acho que discretamente. Eram Malu Mader e Tony Belotto. Casuais, felizes, bonitos e com ingressos de cortesia nas mãos. Pareciam pessoas como nós, batendo papo, esperando a vez na maior paciência, cumprimentando amigos que estavam mais atrás na fila. Achei legal e pensei “tomara que a gente esteja bem assim quando tivermos a idade deles”.
Entramos, assistimos à peça (muito boa, por sinal), saímos para tomar um chope e comer alguma coisa depois. No meio dos comentários sobre o que havíamos acabado de ver, ele me solta a seguinte fala: “Já pensou se você fosse a Malu Mader e eu, o Tony Belotto?”. Nada demais nessa pergunta, certo? Eu confesso, contudo, que achei muito interessante (e significativo) que ele tenha colocado os mesmos nós dois enquanto casal no cenário fantasioso em que seríamos Malu Mader e Tony Belotto. Ele não disse “Já pensou se eu fosse casado com a Malu Mader?” ou “Já pensou se você fosse casada com o Tony Belotto?”. Ele disse: “Já pensou se você fosse a Malu Mader e eu, o Tony Belotto?”.
Você deve estar se questionando agora: e daí, gente? Onde você quer chegar com isso? Pois bem, ensinam nas oficinas de escrita e afins que um bom texto deixa as coisas nas entrelinhas, já que explicar demais acaba fazendo com que o texto fique ruim. Ou será que eles dizem que quando a gente precisa explicar demais, é porque o texto está ruim?Não me lembro bem. Como o texto é meu e eu não tenho compromisso com essas regras (a vida já impõe compromissos demais para que a gente leve a arte a ferro e fogo), explico: meu marido mudou na cabeça dele tudo o que poderia ser mudado para imaginar essa situação, exceto o fato de nós dois ainda sermos um casal. E eu sou uma boba, uma canceriana, uma romântica doida (o que seria um pleonasmo nas palavras de Vander Lee, mas o texto é meu, e se eu quiser usar pleonasmos, o pior que pode acontecer é alguém pensar que eu escrevo mal), mas achei isso lindo.
Nós dois poderíamos não ter conhecido um ao outro por um detalhe, um mau humor ocasional que impedisse o diálogo inusitado que tivemos naquela noite no bar Amarelinho da Avenida Prudente de Morais, em Belo Horizonte, no ano de 2004. Mas mesmo quando alteradas todas as variáveis na cabeça dele, mesmo eu sendo uma atriz de renome e ele um músico famoso, ainda seríamos eu e ele. Um “Efeito Borboleta” todo dele, em que tudo muda e o principal permanece a mesma coisa. Mesmo se nós dois fôssemos outras pessoas, ainda estaríamos juntos. Que lindo.
Eu gostei muito da peça, adorei sair para o teatro depois de tanto tempo sem fazer isso, considerando que somos pais de uma bebê de dez meses, adorei tomar um chope no Café Lamas, de onde eu estava com saudades, mas eis a minha parte favorita da noite.
E ele ainda completou a própria fala dizendo “a gente nem teria que pagar, a gente teria cortesia. Quem pode, pode, né, amor?”. É nesses detalhes, nessas coisas tão pequenas que se a gente não estiver enxergando bem, passam despercebidas, que mora a certeza das boas escolhas. Estar com uma pessoa que diz uma coisa tão simples, divertida e bonita, só pode ter sido uma boa escolha. E foi.
Eu, que não sou nem canceriana nem a mais romântica (gêmeos com capricórnio), ensaiei uma marejada nos olhos por aqui 🥹. E acho que o melhor mesmo é serem Fernanda e Munif - sem cortesias no teatro, ok, fazer o que rsrs - mas com cumplicidade e amor nos momentos cotidianos. E com essa sua sensibilidade de nos atentar pra isso, Nandoca. Amo!
Achei linda DEMAIS essa sintonia de vcs e a sensibilidade pra observar um casal que no futuro “será” vcs 2!